Por Estadão

Representantes de diversos setores produtivos – como varejo, alimentação, têxtil, shopping centers e mercado imobiliário, entre outros – acreditam que a ‘Semana do Brasil’ ajudará a dar fôlego às vendas, apesar do pouco tempo que tiveram para organizar as ações promocionais.

O evento será importante para desovar estoques e girar o capital diante da fraqueza da economia brasileira, dizem os líderes empresariais, que também enxergam potencial para a ‘Semana do Brasil’ se tornar uma data permanente no calendário anual de vendas, assim como aconteceu com a Black Friday

Idealizada pelo Governo Federal, a campanha foi impulsionada pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), que aproveitou a ausência de datas comerciais em setembro para mobilizar empresas, entidades e associações. De 6 a 15 de setembro, a promessa é de benefícios reais aos consumidores brasileiros, seja por meio de descontos, isenções ou promoções.

Das 3.008 empresas cadastradas no site da ‘Semana do Brasil’ até esta quarta-feira, 4, 71% estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste, mas há redes de abrangência nacional, como Magazine Luiza, Lojas Americanas, Smart Fit e bancos. A região Norte é a que tem menor representatividade na listagem do governo, com apenas 3% do total.

Varejistas

No segmento de shoppings, a previsão é de um aumento de 5% nas vendas no período de 06 a 15 de setembro. “Estamos bem otimistas”, disse a diretora de planejamento da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Gabriela Oliveira. Segundo a entidade, 70% dos 563 centros de compras do País confirmaram que vão aderir à campanha e farão anúncios publicitários e ações de entretenimento para atrair visitantes. Outros 25% manifestaram interesse em participar, mas não confirmaram devido ao prazo curto para se organizarem. E 5% declinaram por falta de orçamento ou porque a agenda já estava ocupada. “Mesmo com o tempo curto de preparação, o evento foi bem visto e com uma taxa de adesão positiva”, avaliou Gabriela.

“Há potencial de aumento das vendas das lojas. Evidentemente, não será uma coisa estrondosa, mas ajudará a dar um ‘start’ no setor”, estimou o diretor institucional da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Luis Augusto Idelfonso. “Diante do momento de paralisação da economia, essa campanha vem num bom momento. É um alento”, emendou. Na sua opinião, os lojistas tendem a concentrar os descontos nos itens parados há tempos nos estoques, na tentativa de girar o capital. “É uma boa oportunidade para se fazer um dinheiro extra”.

O setor têxtil é apontado como um dos principais favorecidos pela campanha devido à troca de coleções que acontece entre agosto e setembro. “É o momento em que a gente atrai o consumidor para apresentar os produtos da nova coleção e pode ser que um ou outro seja direcionado para uma oferta”, disse o diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), Edmundo Lima. Segundo ele, se o resultado da semana consolidar uma tradição no calendário de vendas, as empresas irão se planejar para atender a data.

Entre as empresas de alimentação, a falta de tempo hábil para realizar ações de marketing, envolvendo desde a produção de embalagens especiais até comerciais na televisão, deve fazer com que a maior parte das companhias tenha promoções online, segundo o presidente do Instituto Foodservice Brasil (IFB), Marcelo Marinis. Os descontos devem ficar concentrados nos aplicativos das redes de restaurantes e também nos de entrega, como iFood e Rappi.

Mais mercados

No mercado imobiliário, que tem assistido a uma retomada dos negócios, a expectativa é que o evento reforce o clima positivo. “Creio que a semana vai mexer com as vendas. Em geral, as pessoas estão mais animadas para ir aos plantões”, comentou o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Basílio Jafet. Ele observou que os estoques de imóveis novos estão diminuindo na cidade de São Paulo, e os novos projetos terão um preço maior. “Então há uma visão crescente de que o momento é favorável para comprar, e a ‘Semana do Brasil’ será mais um apelo”, pontuou Jafet.

O presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, também manifestou opinião semelhante. “A expectativa é de crescimento nas vendas dos imóveis. Além do evento em si, as condições estão favoráveis para a compra”, afirmou, citando a queda nos juros dos financiamentos no País. Ao menos 12 das 36 associadas da Abrainc confirmaram adesão ao evento – Econ, Cyrela, RNI, MRV, Setin, Exto, Plano e Plano, Vitacon, Morar, Namour, Tegra e Even. Elas oferecerão um ano de condomínio grátis para quem comprar apartamento durante o período da campanha. Entretanto, a promoção é válida apenas para alguns imóveis e não para todos os estandes.

Empresas de outros segmentos também confirmaram participação. No setor de telecom, Vivo e TIM informaram que oferecerão pacotes com descontos. Claro e Oi não responderam à reportagem. Entre as companhias aéreas, Gol e Latam se cadastraram no evento e disseram que ainda avaliam ações de vendas, ao passo que a Azul não prevê iniciativas promocionais. Outro grupo que aderiu à data foram as locadoras de veículos: a Movida oferecerá desconto em alugueis de carros da linha premium. Sem abrir sua estratégia, a Localiza destacou apenas a expectativa de atrair clientes recorrentes e atingir aqueles que ainda não alugaram carro com a companhia.

Vai colar?

Caso os resultados deste ano sejam positivos, o evento pode entrar definitivamente no calendário anual de datas fortes de vendas. Como o segundo semestre costuma ser mais aquecido para a economia nacional – com maior geração de empregos e liberação de 13º salários e outros bônus – o entendimento é de que há espaço para criação de um novo marco. “Não briga com a Black Friday. Há consumidores para as duas datas”, avaliou Gabriela, da Abrasce.

Paira sobre os varejistas, porém, uma preocupação com a possibilidade de a campanha ficar associada ao governo Bolsonaro e desestimular a participação de parte da população. “Se for relacionada ao governo Bolsonaro, vai ter muitos inimigos, muita gente não vai aderir em função disso. A gente torce para que a campanha não fique com esse carimbo, que ela fique como incentivo”, disse o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Mauricio Salvador.

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