Por revista Exame

De olho no estilo das ruas, as mudanças na moda estão cada vez mais aceleradas. Para atualizar sua produção e se manter relevante, a C&A está expandindo um projeto que permite a criação de novas peças até quatro vezes mais rápido.

Ao invés de demorar quatro meses para que novas roupas cheguem às lojas, o novo processo leva apenas 35 dias. O projeto quebra o calendário de lançamentos usado até então, centralizado em grandes coleções baseadas nas estações. As novas coleções cápsula são menores e lançadas semanalmente.

As peças do Projeto Mindese7, uma submarca da companhia, até então eram vendidas apenas pela internet e hoje ocupam áreas específicas em algumas lojas da rede.

As primeiras coleções começaram a ser vendidas pelo site em junho de 2018. “Vimos uma conversão maior de vendas com esses produtos e um fluxo maior de visitantes nessas páginas”, afirmou Paulo Correa, presidente da C&A no Brasil. O segundo passo foi experimentar o modelo em duas lojas conceito, nos shoppings Iguatemi, em São Paulo, e no Leblon, no Rio de Janeiro. O consumidor podia experimentar a peça em loja e comprar pela internet, para receber em casa.

Agora, a empresa lançou formalmente o projeto em cinco de suas 270 lojas, que contarão com estoque para o consumidor levar a peça na hora. São quatro lojas em São Paulo, nos Shoppings Ibirapuera, Morumbi, Center Norte e Iguatemi, e uma no Barra Shopping, além do espaço na Loja do Leblon, no Rio de Janeiro.

Por enquanto, as edições são limitadas em termos de volume. A companhia não abre o valor de faturamento do projeto ou quanto ele já representa para a companhia. No entanto, afirma que o metro quadrado dedicado às roupas da marca fatura até 40% a mais do que o metro quadrado de uma loja comum.

“Em uma viagem para a Europa, vimos a importância e rapidez da moda de rua”, afirmou Correa. “Percebemos que era necessário ter um novo formato de desenvolvimento de coleções, mais baseado em tendências que chegam da rua”, disse.

O projeto surgiu como uma unidade separada dentro da companhia, para testar novos métodos de criação. A equipe de oito pessoas, com estilistas e responsáveis por compra, planejamento e tecnologia, senta ao lado das salas de diretoria no escritório da companhia. A equipe é pequena em relação aos 16 mil funcionários que a C&A tem no Brasil, mas já causou impacto na estratégia.

De acordo com ele, nem todos receberam o projeto com entusiasmo. “O maior obstáculo que estamos enfrentando é a mentalidade. Quando você abre mão de uma maneira de agir, gera reações como medo e preocupação”, afirmou.

Aos poucos, a companhia espera levar alguns dos aprendizados da área para outros departamentos da companhia. “Esse projeto veio da nossa curiosidade de saber se é possível fazer as coisas de outro jeito”, contou o presidente.

Os fornecedores das peças da nova marca foram escolhidos entre aqueles que já atendiam a companhia. A varejista negociou com cada um para verificar se os fabricantes das peças conseguiriam acompanhar o novo ritmo de trabalho.

A nova velocidade de produção e consumo de roupas é um fenômeno preocupante para o meio ambiente, já que a indústria têxtil é uma das que mais polui globalmente.

Um caminhão de resíduos têxteis é jogado no lixo a cada segundo no mundo. Só no Brasil, a indústria gera 170 mil toneladas de retalhos por ano, e cerca de 80% desse material vai parar em lixões.

Além da geração de lixo, a indústria também gera desperdício de dinheiro: todo ano 500 bilhões de dólares são gastos em roupas que são pouco usadas e raramente recicladas, de acordo com relatório feito pela Fundação Ellen MacArthur e Stella McCartney.

Para reduzir o impacto de sua produção, a C&A criou metas que também se aplicam aos seus fornecedores. Cerca de 60% de seus produtos são feitos com um algodão considerado mais sustentável, com meta para chegar a 100% em 2020, e a companhia busca reduzir o uso de água durante a fabricação.

Também criou um programa de reciclagem para roupas usadas. Realizado pela C&A desde 2017, o Movimento ReCiclo permite que os clientes descartem as suas roupas usadas em urnas em 80 lojas da C&A.

Após passar por uma triagem, as peças são direcionadas aos parceiros da C&A para reutilização ou reciclagem. Até agora, a empresa já coletou 2,8 toneladas de tecido, ou mais de 15 mil peças. 72% foram destinadas para reuso e 28% enviadas para reciclagem.

Ainda que a velocidade de produção aproxime a C&A de concorrentes como a Zara, Forever 21 ou H&M, a empresa prefere se distanciar do termo “fast fashion”. “Queremos ser fashion e velozes, sim, mas sem impor tendências”, disse o presidente.

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