Por Marilene Araújo
Head de expansão do Grupo Soma
A cobrança de aluguel percentual sobre as vendas de lojas em shoppings centers é algo comum e que faz parte das normas gerais desses estabelecimentos.
Entretanto, com o crescimento do e-commerce e a queda das vendas nesses pontos físicos, começam a surgir dúvidas sobre essas taxas. Como evitar que elas sejam abusivas? O que fazer para que a relação entre as duas partes seja justa?
Esses e muitos outros temas têm sido discutidos nesse meio. Isso porque, com as vendas em um patamar baixo, como as marcas ainda devem pagar integralmente pelas vendas online com retirada no shopping ou vice-versa?
Essa solução não me parece sustentável a longo tempo…
Abordando esse tema, a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), divulgou recentemente um comunicado aos associados sobre as vendas que devem ser computadas na base de cálculo do aluguel percentual:
- Vendas realizadas no shopping A e entrega feita no shopping B (tem prevalecido que a venda será computada em um dos pontos, senão haveria duplicidade de pagamento);
- Vendas iniciadas no interior da loja e concluídas fora dela;
- Vendas iniciadas no site da loja e concluídas dentro dela;
- Vendas feitas pelo site e retiradas na loja;
- Vendas realizadas fora da loja e completadas nela.
É claro que fica a critério de cada grupo de shopping centers negociar com os lojistas os critérios de pagamento. Em alguns casos, as taxas podem ser reduzidas, de acordo com o acerto realizado.
Diante desse cenário e da diminuição frequente do número das vendas em lojas de shopping, não seria o momento de discutir a questão do pagamento de aluguel percentual aos shoppings?
Hoje em dia, grande parte dos shoppings do Brasil cobram uma porcentagem sobre as vendas online também, quando elas são retiradas na loja física.
Baseadas nas normas gerais antigas de shoppings, poderíamos entender que todos esses casos de venda levariam ao pagamento de aluguel percentual.
Entretanto, os custos do processo de desenvolver o site, gerar conteúdo, bem como as estratégias para captar o cliente, foram do lojista, certo? Por que, então, pagar 100% desse aluguel?
Quando isso acontece, grande parte dos lojistas – principalmente os de moda, que é o meu segmento – têm pensado três vezes antes de enviar esse cliente para o shopping. Resultado: o shopping perde um consumidor qualificado circulando pelo seu espaço e com potencial de compra.
Como funciona a relação do varejo de moda com os shoppings
Para não perder esses clientes que querem a comodidade de comprar online e ter a possibilidade de fazer comparações e devoluções sem custo, os shoppings criam seus marketplaces, aproveitando-se do aumento da base de dados trazida por toda a base de seus lojistas.
Algumas redes estão trabalhado com serviços de delivery, que para alimentação funciona muito bem, mas, para o varejo em geral – especialmente para moda – ainda deixa a desejar.
A maioria desses empreendimentos ainda cobra uma taxa muito alta além do aluguel percentual, o que pode inviabilizar tais projetos. Além disso, há uma complexidade logística, que ainda não está 100% solucionada.
O que fazer, então, para que essa relação fique boa para ambas as partes?
É preciso que haja uma disruptura em termos de cobrança para que os lojistas se sintam motivados a fazerem com que o omnichannel cresça de forma sustentável e a visitação da loja também.
Caso contrário, o varejo trabalhará para fazer suas vendas diretamente de seu e-commerce com entrega direta ao cliente ou optar pelos empreendedores que negociarem os melhores percentuais de aluguel.
Com isso, a tendência é de que exista uma diminuição do número de lojas físicas, igual ao que aconteceu nos Estados Unidos.
Para que isso não aconteça, deve haver uma sabedoria de todos perderem agora para ganharem no futuro. Se isso não acontecer, o risco de muitas lojas saírem dos shoppings e irem para as ruas é grande.
Afinal de contas, ter uma loja de rua bem posicionada nos grandes centros é ideal para servir como centro de distribuição sem que seja necessário pagar aluguel aos shoppings.
Se essa tendência se concretizar, perdem os shoppings, os lojistas e, consequentemente, os clientes. Por isso, é fundamental agirmos o quanto antes para que isso não aconteça.