Em um cenário de pandemia, dificuldades econômicas e boa parte da população com problemas financeiros, o que esperar do varejo em 2021? Ele se manterá resiliente ou sofrerá perdas ainda maiores neste ano?

Para responder a essas e outras questões importantes, a Gouvêa Analytics promoveu, por meio de sua equipe de economistas, um estudo sobre os impactos da vacinação sobre a economia, traçando possíveis cenários de melhora após a imunização.

“Vivemos o pior momento dos últimos 12 meses de pandemia, com uma taxa acelerada de contágio e mortes, além do quase colapso no sistema de saúde em algumas cidades”, analisa Marcelo Allain economista e sócio do Gouvêa Analytics. ”A combinação destes fatores faz com que o consumidor se retraia totalmente, com receio de consumir serviços e sair às ruas”, completa.

Vale destacar que, no segmento do Varejo, o setor de Serviços foi o mais impactado pela pandemia e pelas medidas de restrição. Dados da Pesquisa Mensal de Serviços PMS do IBGE apontam queda de 7,4% no último ano. Se forem considerados apenas para os serviços orientados ao consumo, a queda foi muito mais expressiva, de 31,6% em 2020, segundo os dados do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) da Cielo.

Se, de um lado, temos o setor de Bens de Consumo Básicos se mantendo, um pouco graças ao auxílio emergencial concedido a cidadãos de baixa renda no último ano, do outro lado, há inúmeros estabelecimentos comerciais e de lazer sofrendo com o fechamento total. Os que não operam com e-commerce ou deliveries, sofrem muito mais.

“Pensando em tudo isso, fomos estudar a questão da vacinação, para tentarmos entender em que momento devemos ter um alívio através da imunização”, conta Marcelo, que cita os resultados aos quais o grupo de economistas chegou.

“Olhando as estatísticas com as quais trabalhamos, este cenário deve continuar no segundo trimestre. A esperança é de que, neste ritmo de aquisição e fabricação de vacinas, entre os meses de julho e agosto, as pessoas com mais de 40 anos [metade da população brasileira] estejam vacinadas”, completa.

Com essas perspectivas e considerando as duas doses previstas na vacinação contra a Covid-19, os especialistas acreditam em uma retomada das vendas no varejo em geral a partir do terceiro trimestre. Segundo Marcelo, aspectos como vacinação, retomada da saúde econômica do País e, consequentemente, dos negócios, são fatores totalmente atrelados.

“Um ponto que está batendo muito no varejo, além do fechamento das lojas e shoppings, é a taxa de câmbio muito depreciada. Tudo isso está sendo motivado pela insegurança fiscal do País e situação política”, completa Marcelo, enfatizando que o cenário piora com o setor público perdendo receita e com gastos muito maiores no ano passado, com os auxílios emergenciais.

Para ele, o ideal seria que o setor público abrisse espaço no orçamento, segurando algumas despesas para acomodar os auxílios – algo que Governo e Congresso não têm feito.

“Neste ano, não temos espaço para outro decreto de calamidade pública, como o que foi assinado no ano passado quando rompemos o teto de gastos”, avalia o economista. “Então, no terceiro trimestre, quando acabar o orçamento, provavelmente será aprovada uma nova exceção – o que torna o câmbio continuamente depreciado”, completa, destacando que, com moeda desvalorizada, há um impacto grande sobre o poder de compra, com aumento de preços e consequente aumento repassado pelo varejo ao consumidor.

Vale destacar que a inflação no Brasil já beira os 6% e, segundo as estimativas da Gouvêa Analytics, a taxa de juros deve voltar ao nível de aproximadamente 5,0% – 5,5% no final do ano, normalizando o câmbio se o teto de gastos for mantido (embora o risco de rompê-lo seja alto).

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