Por Estadão
Depois de mais de 20 anos de ausência e três décadas após uma briga que separou dois ramos da família Lundgren, dona do negócio fundado há 111 anos, a Pernambucanas está de volta ao Rio de Janeiro. A primeira unidade foi inaugurada no fim de abril, no município de Itaperuna, e outras nove estão previstas até o fim do ano, afirma o presidente da varejista, Sérgio Borriello, inclusive com lojas previstas para o centro da capital e o bairro de Copacabana. A marca, que chegou a ter mais de 700 lojas no Brasil e era conhecida pela forte presença no interior, perdeu boa parte de seu domínio após essa briga societária.
A empresa era formada originalmente por duas companhias, que dividiam a marca: a Arthur Lundgren Tecidos, responsável pelas operações do Sul, Centro-Oeste e São Paulo e a Lundgren Irmãos Tecidos, sediada no Rio de Janeiro e que cuidava das lojas fluminenses e da operação no Nordeste. Após brigas que começaram nos anos 1970 e atingiram o ápice nos anos 1980, a segunda empresa foi à falência em 1997. De lá para cá, a marca deixou de existir no Rio de Janeiro.
Disputa familiar
Agora, a companhia retorna sob o comando da parte da varejista que sobreviveu. Apesar de ter permanecido ativa, a Arthur Lundgren Tecidos também teve seus percalços nos últimos tempos. Os herdeiros se envolveram numa briga da qual fez parte a bisneta do fundador – Anita Harley, até hoje a maior acionista individual do negócio – e os sobrinhos, pelo direito relativo a 25% do negócio. A questão foi pacificada após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de 2017, em favor dos sobrinhos.
A sentença abriu a porta para a Pernambucanas fazer mudanças em seu modelo de negócio – como a saída do setor de eletrodomésticos e o estabelecimento de uma gestão profissional com mais autonomia.
Em 2018, a receita líquida da Pernambucanas teve crescimento de 17,6%, totalizando R$ 4,2 bilhões. O lucro foi de R$ 549 milhões, dado inflado pelo resultado de uma ação judicial relativa a uma briga tributária. A expansão de vendas, porém, veio depois de varejista ter perdido 25% do faturamento entre 2014 e 2017.
Há dois anos e meio à frente da Pernambucanas, Borriello traçou a meta de abrir cem lojas até 2021, incluindo 32 pontos de venda neste ano, para um total de 368. “Apesar de abril ter sido um mês ruim, não vamos voltar atrás nos nossos planos”, diz ele. A expansão da rede, que seria a maior das últimas décadas, inclui também o retorno da marca para o Espírito Santo.
Estratégia
Apesar de o varejo ter perdido o fôlego no País e todos os indicadores estarem sendo revistos para baixo – com a previsão média para o crescimento do PIB agora em 1,45% para 2019 –, o consultor Alberto Serrentino, da consultoria Varese, diz que é um bom momento para que a Pernambucanas volte ao Rio de Janeiro. Primeiro porque ainda existe uma memória residual da marca – o que é uma vantagem em relação a começar uma operação do zero. Depois, porque a Leader, principal rival da Pernambucanas no Rio, teve várias dificuldades nos últimos tempos.
Serrrentino também afirma que a estratégia de Borriello – de ocupar espaços rapidamente, antes de uma recuperação mais firme da economia – também faz sentido.
“A Pernambucanas, por causa de seus problemas societários, de administração e posicionamento, não conseguiu aproveitar o ‘boom’ do crescimento dos shoppings, em 2012 e 2013”, afirma ele. “Agora, no entanto, tem a vantagem de poder se expandir com os preços de locação de imóveis em níveis bem mais baixos.”