Por Luis Felipe Salles
Empreendedor de shopping precisa de lojistas. E lojistas também precisam de shopping. Em linhas gerais, um setor precisa do outro sempre para expandir ou se manter.
E, agora, no período da pandemia, que já está durando quatro meses, uma parte considerável dos varejistas do País está com rentabilidade negativa, (exceto os de segmentos essenciais).
Empreendedores de shopping centers ficaram fechados na maioria das cidades e, quando autorizados pelos decretos, tiveram horários reduzidos e várias medidas restritivas focadas na segurança sanitária. Além disso, a permissão para abrir foi posterior a abertura dos lojistas do comércio de rua.
Estamos numa curva obscura de como retomar as vendas ao patamar do ano passado e, depois, como voltar ao fluxo natural de expansão dos negócios.
Além disso, alguns hábitos que foram acelerados com o Covid-19, como as venda online, o delivery, home office, cuidados de higiene e limpeza e a segurança sanitária terão, em um primeiro momento, serem incorporados na agenda dos negócios.
Estas questões estão mexendo com toda cadeia produtiva, na busca da melhor gestão na crise, com a redução rápida de custos e ainda a necessidade de criar alternativas com aceleração nas vendas, mesmo que muitas lojas estejam fechadas.
Grande parte do varejo está pensando ou já está praticando a conversão utilizando os meios digitais com e entrega rápida dos produtos. Houve uma antecipação dos varejistas de pequeno porte ao “PHIGITAL” – união da loja física com a digital.
Empreendedores estão criando seus próprios marketplaces ou se plugando em plataformas já existentes, ou seja, o O20 (Online com off line) está acontecendo de maneira acentuada.
Estamos no mesmo mar. E com ondas do tamanho de um tsunami com uma nuvem escura por cima de todos. Não faz diferença o tamanho do seu barco; o mar está revolto a todos, e o problema é proporcional à sua embarcação.
O que nos motiva são as buscas por novas soluções e, agora, cada vez mais rápidas e criativas com a união das pessoas. Existe hoje um grande engajamento empresarial, para que todos se salvem deste o estrago do vírus e o mar volte ao estágio de brigadeiro o mais rapidamente possível.
Algumas tendências que eram previstas para o futuro já estão acontecendo agora.
Posso citar uma em que acredito muito:
O êxodo urbano ganhará grande força agora.
Creio em um potencial movimento nesse sentido, exatamente ao contrário do êxodo rural que aconteceu nos anos 70.
Existe uma tendência de crescimento das cidades medianas do interior do País. Atualmente, há muitas pessoas que estão buscando mais qualidade de vida com menor custo e migrando das capitais para cidades menores.
A expansão do mercado imobiliário já era esperada e está aquecendo e, agora, a queda de juros da taxa Selic (hoje a 2,25%), que não remunera bem os investidores que estão no mercado de capitais, é outro ponto favorável para isso.
Nas cidades do interior, os valores são mais alinhados com potencial de renda da classe média. E uma migração de investimentos já está acontecendo nas cidades pequenas, que oferecem boas condições de infraestrutura, saúde, segurança e educação. Nestas, os lançamentos imobiliários já estão vendendo muito rapidamente.
No varejo, também estão surgindo modelos mais enxutos de negócio bem formatado, que são microfranquias e também os modelos de franquia multimarcas, como já é caso da Baloné, Puket e Imaginarium (Love Brands), que se uniram para um projeto de franquia com todas marcas na mesma loja.
Outro exemplo é a Arezzo, que lançou um projeto especial para cidades abaixo de 200 mil habitantes e onde a marca não está presente, chamada de Arezzo Light.
Creio que haverá uma grande qualificação do varejo de rua e de shoppings, com nascimento de maior oferta de produtos e serviços de nicho. Um movo mix está por vir.
Empreendedores de shoppings em cidades médias no interior já somam 55% dos 577 shoppings centers do Brasil. Estes irão prosperar muito e sair da crise mais rápido.
Por estratégia, é possível que redes de empreendedores de porte médio devam expandir mais neste filão. A briga do glamour das grandes capitais e do mercado fashionista é para os gigantes do setor, que são especialistas no mercado de luxo acessível à classe B+ e ainda a parte dos empreendedores focados na classe A.
Uma das boas alternativas para os empreendedores médios ou regionais se rentabilizarem são os mercados menores e emergentes, entregando inovação com o básico bem feito, ou seja, modernidade na arquitetura, mix de qualidade, boa ambiência e segurança em projetos no tamanho correto para estas cidades.
O Brasil tem mais 5.500 cidades e apenas 48 municípios têm mais de 500 mil habitantes. Ali, concentram-se, na maioria dos casos, shoppings das grandes redes nacionais focadas no público das classes B+ e A.
Abaixo desta faixa de populacional de 500 mil habitantes, há cidades polarizadoras de interior, que devem gerar muitas oportunidades para o desenvolvimento do setor. Empreendedores regionais e varejistas nacionais estão de olho nisso.
Os strips malls (abaixo de 10.000 m² de AB ) e shoppings pequenos entre 12.000 m² a 20.000m² de ABL (área bruta locável) serão os mais factíveis de acontecer nestes mercados de cidades pequenas e com mix mais básico, sendo que muitas delas sequer tem um shopping ainda.
Vejo neste nicho a expansão das marcas nacionais, com bom crescimento do franchising. A união de investidores profissionais com gestores locais e/ou com os profissionais que migram suas carreiras da capital pela busca do empreendedorismo com qualidade de vida do interior vai dar muito certo.
Muitas pessoas estão reinventando suas vidas, buscando mais tranquilidade e privilegiando a saúde e, ao mesmo tempo, reencontrando raízes da família. Grande parte da população das capitais é fruto do êxodo das cidades de interior.
Empreender com o desafio de uma nova experiencia profissional rentável, porém com todo conforto da modernidade, é algo que faz sentido para muitos.
A simplicidade é novo luxo, uma versão da tradução do menos é mais.
Creio que a redenção do varejo passará por esta etapa. Deverá unir o útil ao agradável com uma rentabilidade de justo valor, onde profissionais que foram dispensados ou profissionais liberais que têm mais mobilidade terão a motivação com a pandemia de abrir mão da loucura do capitalismo selvagem que existe nos mercados mais maduros de alta densidade demográfica e alto custo para tentarem uma vida mais saudável e com um propósito diferente e renovado.
A união dos franqueadores e empreendedores está melhor neste momento. Existe uma demanda pelo interior e uma vacância pequena ainda disponível. A crise sempre traz oportunidades para quem tem criatividade, ousadia e visão de futuro.
Muito bom
Luiz fantástico artigo e visão. Concordo plenamente
– mais simplicidade
– mais conforto
– menor rentabilidade
– mais qualidade de vida
– crescimento de projetos médios em cidades de médio porte
– e acrescento mais serviços, entretenimento e alimentação em empreendimentos mais abertos (OPEN MALLS) de vizinhança.