Por Adrián Aguilera
Membro fundador do Portal NDEV Brasil
Especialista em Cinemas e Entretenimento na América Latina
É assim que começo este texto, com a manchete de um jornal internacional publicada recentemente. É incomum escrever sobre este tema visto que não sou um analista de investimentos recomendando a compra/venda de ações nem tampouco parte da Diretoria da Netflix que devia estar extremamente preocupada com a saúde financeira do seu negócio, ou pior, preocupado com o futuro deste famoso serviço de streaming de conteúdos por assinatura.
Em síntese, a Netflix teve um milhão de assinantes a menos do previsto no orçamento para o segundo trimestre deste 2018. Resultado ruim, analistas e investidores chateados, iminente a desvalorização no mercado. Os grandes investimentos realizados pela empresa na produção de séries e filmes próprios demandam uma fonte de receita crescente: assinantes e mais assinantes. Não ter atingido a meta de novos membros neste período não é o alerta. Em três das últimas dez divulgações de resultados eles não atingiram o número de assinantes projetado.
Enquanto a Netflix começa a acertar as projeções, concorrentes como Apple e Amazon estão investindo pesado na produção de conteúdos para distribuí-los em suas próprias plataformas on-demand.
É evidente que os serviços de streaming por assinatura estão se convertendo no modelo de negócios dominante para conteúdos de vídeo. A concorrência acirrada entre estas grandes empresas, e todas quantas surgirão, está só começando. Um exemplo será a Disney desenvolvendo seus canais e poderá ter vários. E não diferente disso, temos conglomerados de telecom e mídia, gigantes e poderosos, se preparando para entrar neste mercado. Tem ainda empresas regionais criando seus próprios conteúdos para o público local – o público que tanto eles conhecem e facilmente acertariam em criar programas de sucesso.
INTERNET. É ela uma revolução contínua que possibilita entretenimento a milhões de pessoas: o entretenimento de baixo investimento e alta diversidade de conteúdos. No Brasil, cem reais mensais podem cobrir o serviço de internet, a assinatura do streaming, a parcela do telefone celular e ainda dá para comprar um bom headphone. Para estas pessoas obcecadas em séries, filmes e vídeos, wifi é tudo.
É só o começo de uma nova onda que muitos se atreverão a surfar. A evolução do entretenimento se beneficia através do desenvolvimento tecnológico, da universalidade da criação local, da facilidade de disseminação e da oferta ao consumidor nos novos formatos de diversão. Assim, terá mais formatos dentre os quais ele poderá escolher suas preferências de entretenimento.
Se falarmos de entretenimento, é fundamental citar o conceito do share of wallet – como distribuímos nosso bolso para cobrir gastos que temos ou que escolhemos, mas esse será o tema de outro texto. Entretenimento não é um bem durável nem um serviço necessário; ou já se converteu em um?
A Netflix e seus jovens executivos especialistas em data science dificilmente errariam a projeção de assinantes tão feio. Mas é possível que a projeção de assinantes inicial não estava tão errada; pode ser que tantas opções estão dividindo o interesse das pessoas para eleger um serviço seja ele de vídeos, de séries, de música ou de filmes. Até agora não tem nenhum serviço destes que unifique todos. Até agora.
A notícia de pior resultado de assinantes da Netflix vai contracorrente da ideia geral de que é um negócio de sucesso garantido. E para tudo isto, como está a indústria de cinema?
Escrevi sobre os streamings. pois é recorrente que me perguntem se eles irão acabar com o cinema. Será? Abordaremos este tema em breve nesta coluna sobre entretenimento. O que devemos nos perguntar também é sobre outros impactos que os streamings causa antes de questionar se o cinema poderá acabar.
Como está o número de assinaturas de TV a cabo? Como estão os ratings dos programas da TV aberta? Como está a frequência dos canais de YouTube? Como está o número de assinaturas de revistas ou a procura nas bancas? Será que a compra de console de vídeo games estão em alta? Alguém compra jogos de mesa ainda? Será que na próxima Copa do Mundo valerá mais o álbum Panini virtual do que as figurinhas de papel?
Adrián Aguilera
Membro fundador do Portal NDEV Brasil Especialista em Cinemas e Entretenimento na América Latina