Por Luis Felipe Salles

Com a abertura gradual dos shoppings após a quarentena adotada em todo o Brasil, ainda é impossível traçar um cenário de como o consumidor se comportará e quais hábitos realmente mudarão pela recorrência e serão absorvidos a uma nova rotina e quais serão os hábitos momentâneos derivados do impacto do susto, com uma adaptação necessária.

Podemos traçar uma estimativa de como serão os impactos nas vendas e na circulação de pessoas para composição do consumo no varejo, tanto em shopping quanto nas lojas de rua.

Neste momento, estamos com 158 shopping centers abertos e ainda com restrições, face os protocolos de segurança. Destes, 107 estão no interior do País. Em capitais, são apenas 5 cidades: Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Campo Grande e Brasília, que somam 50 shoppings. No total de abertos, temos 69 cidades em 12 estados.

De acordo com o Monitoramento de Mercado ABRASCE – Índice Cielo de Varejo em Shoppings Centers (ICVS-ABRASCE) – a receita nominal de vendas despencou em abril, com queda de 89,0% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Os desdobramentos da pandemia da Covid-19 sobre a atividade econômica, com paralisação das atividades comerciais não essenciais em todo o Brasil em abril, levaram ao pior volume de vendas da história da atividade de shoppings centers.

No mês de abril, apenas 60 shoppings foram reabertos do total de 577 espalhados pelo Brasil e reabriram na segunda quinzena do mês, com a grande concentração na região Sul do Brasil (42 empreendimentos), que teve um melhor controle da pandemia.

O Produto Interno Bruto, de acordo com a divulgação do IBGE, caiu 0,3% nos três primeiros meses do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Mas, se comparado ao último quadrimestre de 2019, caiu 1,5%, pois estávamos em um grande processo de retomada do crescimento econômico e subindo bem também neste início do ano no primeiro trimestre. Se continuasse assim, seria um ano incrível.

Com o efeito pandemia na economia, além da ampliação das incertezas e de uma tensão pontual na política, as projeções para a atividade econômica, que já consideram recessão de -4,1% do PIB em 2020, serão reduzidas com a reabertura total dos shoppings e varejo dentro do próximo mês.

O problema maior é a mudança da demanda, que será mais seletiva para compras, sendo já sabido que teremos uma grande diminuição das compras por impulso e supérfluos, tais como itens ligado à moda e produtos de maior valor agregado, devido à incerteza da manutenção do emprego ou à redução de salários, além do desemprego, que já aumentou 5 pontos percentuais.

Apesar desse cenário, uma coisa é certa: hoje, do total reaberto, são 67% de shoppings do interior. Este mercado de shoppings nas cidades com menos de 500 mil é o que mais cresce no Brasil a cinco anos consecutivos, pois 55% dos shopping centers do País estão edificados nestas cidades e, nesta retomada, uma das possibilidades para o futuro pós-coronavírus é investir neste segmento em detrimento a capitais que têm custos mais altos, maior concorrência e mais ressalvas dos consumidores ao tráfego pela sensação de insegurança sanitária das grandes capitais.

Nestas cidades menores, o consumo está voltando muito mais rapidamente, pois o contágio é menor e o número de óbitos, pequeno. São cidades de melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e bem mais controladas, com índice de confiança do consumidor bem maior.

Sabemos que consumo nos shoppings ainda é incipiente, porém estamos no primeiro mês de operação, com cerca de 30% das vendas se comparando ao período antecedente à pandemia. O fluxo também está 70% menor do que era.

No entanto, o ticket médio aumentou, subindo para R$ 121,00, segundo monitoramento da Abrasce. Nas lojas de rua, este valor é de R$ 81,00.

Isto nos mostra que o fator passeio diminuiu – logicamente em função das operações de entretenimento e lazer estarem fechadas, além das restrições da alimentação. A notícia boa é que a taxa de conversão aumentou, assim como ticket médio. Portanto, quem vai ao shopping, compra.

Enxergar além e replanejar o negócio com conceito Base Zero se faz necessário.

E encontrar oportunidades em mercados que estão em crescimento pode ser a chave para sair dessa crise ainda mais forte.

Como podemos fazer isso?

Nos últimos anos, houve um aumento do interesse na exploração das cidades médias, que são vistas como mercados de maior potencial.

Novos empreendimentos no interior já tinham sido anunciados em 2019 e devem voltar com força total após a reabertura dos estabelecimentos em todo o Brasil.

Se bem trabalhadas, as ações nos shoppings do interior podem devolver a confiança do cliente e representar uma boa fatia do faturamento de inúmeras marcas de representatividade nacional.

Para os varejistas e shopping centers, o resumo da ópera em todos níveis que temos visto em ambos setores se resume a 5 tópicos:

  • Resiliência para absorver a crise e reagir com preservação do caixa.
  • Resposta rápida ao mercado, com renegociação de fornecedores.
  • Retornar diferente, com adaptação aos protocolos de segurança e foco no básico bem-feito e nos produtos de alto giro, diminuindo o sortimento pra melhorar o caixa.
  • Reforçar a liderança com os colaboradores, conseguir maior engajamento do time e acertar o propósito, demitindo os de produção duvidosa.
  • Replanejar 2021: os mais rápidos serão os que já perceberam que nosso conhecimento sobre negócio já não serve da mesma forma. O plano de reabertura e expansão começa novamente com números indicadores dos novos hábitos. Neste ano, de agosto em diante é que teremos dados de comparação para o DRE correto e não exatamente do modo que se fazia antes, tanto para projeção de vendas quanto para custo, número de funcionários, tamanho de loja e estoque – tudo será diferente.

Neste momento, o importante é analisar onde é mais vantajoso se estabelecer ou intensificar a operação, avaliando o custo benefício de vendas, possibilidade de crescimento com menos concorrência e se há maior confiança do consumidor para exposição ao consumo.

Nas cidades do interior, os hábitos são mais tradicionais, mais seguros e carentes. Por isso, sem dúvida, terão mais apoio dos empreendedores.

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